O martelo de S. João foi inventado em 1963 por Manuel António Boaventura, meu Avô, industrial de Plásticos do Porto, que tirou a ideia num saleiro/pimenteiro que viu numa das suas viagens ao estrangeiro. O conjunto de sal e pimenta tinha o aspecto de um fole ao qual adicionou um apito e um cabo vindo a incorporar tudo no mesmo conjunto e dando-lhe a forma de um martelo. O objectivo inicial era criar mais um brinquedo a adicionar à gama de que dispunha.
Nesse mesmo ano os estudantes abordaram o Sr. Boaventura com o intuito de lhes ser oferecido para a queima das fitas um “brinquedo ruidoso”, ao que o Sr. Boaventura acedeu oferecendo o que de mais ruidoso tinha...os martelinhos. A queima das fitas foi um sucesso com os estudantes a dar “marteladas” o dia todo uns nos outros e logo os comerciantes do Porto quiseram martelinhos para a festa de S. João.
Esse ano o stock era pouco mas no ano seguinte os martelos foram vendidos em força para esta festa e ao mesmo tempo oferecidos pelo Sr. Boaventura a crianças do Porto.
Assim o martelinho entrou nas festa do S. João sendo aceite incondicionalmente pelo povo nos seus festejos.
A venda fez-se normalmente durante 5 ou 6 anos até que um dia o Vereador da cultura da Câmara do Porto, Dr. Paulo Pombo e o Presidente da Câmara do Porto Engº Valadas chegaram á conclusão de que este brinquedo ia contra a tradição e decidiram fazer uma queixa ao Governador Civil do Porto Engº Vasconcelos Porto, queixa esta que foi aceite tendo mesmo o Governador Civil notificado o Sr. Boaventura de que no ano seguinte estava proibido de vender martelos para a festa de S. João, mandando avisar que quem fosse apanhado com martelos na noite de S. João seria multado em 70$00 (na época ganhava-se cerca de 30$00), e mandando retirar os martelos das lojas comerciais onde estavam á venda. O que é certo é que o povo não acatou esta decisão e continuou a usar o martelo nos seus festejos.
O Sr. Boaventura ao ver-se lesado e injustiçado nesta decisão do Governo Civil levou então a questão a tribunal, perdendo em 1ª e 2ª instância. (estava-se no tempo de Américo Tomás e Marcelo Caetano e consequentemente da PIDE). No entanto no ano de 73 recorreu para o Supremo Tribunal e ganhou a questão, podendo assim continuar a fazer os martelinhos que se tornaram tradição popular não só no S. João do Porto, como no S. João de Braga, Vila do Conde, Carnaval de Torres Vedras, Passagens de ano, campanhas de partidos políticos, etc.
Os martelos sofreram inúmeras alterações ao longo dos anos mas a tradição ficou e a sua história perdeu-se com o tempo....
quinta-feira, 28 de junho de 2007
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16 comentários:
Bastante interessante e uma homenagem pertinente e merecida. No próximo S.João já sei a quem devemos tanto sorriso.
Apenas encontrei este blog porque estava à procura dessa informação. De qualquer forma, fica a felicitação pela boa ideia pois é útil (para mim foi) e presta homenagem a uma ideia simples cujos reflexos vemos todos os anos sem nos questionarmos de onde vem.
Tambem dei com o blog porque andava a procura do significado dos martelinhos nesta altura. Obrigada plo esclarecimento e um Obrigada ao seu avô por fazer do S.Joao uma festa (ainda) mais divertida!
Muito Obrigado pelos comentários tão simpáticos! Abraço!
Descobri como se fazem os martelos de S. João na Visão e vim ver do blog. Primeiro porque um Avô é sempre um Avô e merece tudo (dos netos) e segundo porque sem o seu Avô e o seu martelinho nem havia o S. João que conheci há uns anos e de que tanto gosto.
Sucesso para o futuro.
Artigo simplesmente fantástico.
Ola, boa tarde, como e onde poderia encontrar estes martelinhos.
Estou interessado a comprar.
Espero resposta.
brunohenriques@hotmail.ch
Fantástica a história!
Parabéns ao seu avô e obrigada por partilhar connosco!
Boa tarde, fico contente por haver pessoas que se importam com objecto tão simples mas com tanta história. Parabéns Manuel, fico feliz por lêr isto. Cumprimentos ao teu Pai e Mâe.
Jorge Ramos
Já agora, para quando a pagina WEB?
Lembro-me de pequeno,as brincadeiras com o Martelo e a alegria que nos fazia sorrir.Linda tradicao que podera renascer.Gostaria de contatar com o Senhor para uma possibilidade de divulgar o nosso Martelo(Portugues)noutras festas e outros Paises.M.Fernandes
Fantástico, vou partilhar com os meus filhos esta historia que eu própria não conhecia e vivo no Porto há 39 anos...obrigada. carla Brandão
Muito obrigada pelo esclarecimento, e os meus Parabéns ao Sr. Boaventura!
Obrigada,
Patrícia Lopes Rego
Bonita dedicação! Parabens!
Por acaso nao tens uma foto do teu avô com o martelo original com o qual ele replicoua ideia,nao?era mt fixe ter essa evidencia fotográfica da qual tudo começou...
Infeliz invenção
Penso que todo o tipicismo do alho-porro se perdeu, e particularmente não acho muita graça à sua substituição, pois além de provocar um barulho infernal, por vezes a "delicadeza" dos foliões que o usam é exagerada; mas o alho também tinha, em minha opinião um grande senão: projetava um cheiro muito pouco agradável. Tem caído em desuso de ano para ano. O que era muito soft eram as plumas de múltiplas cores.
Caro Manuel Marinho, ainda bem que publicou esta homenagem ao seu avô que conheci muito pequena, porque era amigo e colega de seminário do meu pai. Conhecia a história claro das muitas vezes que estivemos em vossa casa com a sua avó e a sua mãe. Saudades para todos!
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